Há 10 anos atrás, da janela do meu quarto olhava o outro lado da rua e via sentada num canto do seu mundo, uma menina assustada e magoada que pensava ter feito a pior asneira da sua vida. O som desta musica saia pela janela entreaberta e a angústia dela era mais que perceptível, mesmo deste lado da estrada. Dava nitidamente para perceber o quão pequenino estava o seu o coração e de como ela se arrependia pela forma como tudo tinha acontecido na sua vida ate ali. "Eu andei errado, eu pisei na bola, troquei quem mais amava por uma ilusão (...) eu troco a liberdade pelo seu perdão"- soluçava ela...
Quando penso naquela menina vejo um desgosto de amor... o primeiro talvez... o pior de todos!
A primeira vez que o nosso coração se parte é sempre a pior. Parece que nunca mais o vamos conseguir colar e não sabemos o que fazer com aquela dor que não desaparece nem por nada. No entanto, ao longo do tempo, vamos aprendendo a lidar com a desilusão e a não ligar tanto a essa dor, que acabamos por aprender a controlar.
10 anos depois, revejo aquela menina, agora uma mulher! Uma vez mais esta musica escapa pela janela entreaberta... Há coisas que nunca mudam, mesmo tanto tempo depois :)
Já não está sentada no canto do quarto, nem soluça. Em vez disso, arruma pequenos objectos espalhados, enquanto cantarola: "...mas a gente aprende a vida é uma escola.."
Apesar do sorriso doce e mágico, dá para perceber a tristeza no seu olhar. Já repararam como as pessoas com o sorriso mais meigo, são sempre as mais tristes?
Desta vez não é culpa, não é vontade de mudar nada, não é necessidade de se confessar pelas más decisões que tomou. Desta vez, é só mágoa e tristeza. Afinal nos últimos anos ela aprendeu, mudou e tentou de variadíssimas formas. No fim de contas, nada disso bastou para ser feliz. O que ela aprendeu ficou com ela, mas não com as ouras pessoas. Saber não basta, porque não pode forçar ninguém a ver o que ela vê. Todos temos de passar por lá sozinhos.
A cada esperança, a cada mudança, a cada sacrifício que depois acabava sempre por ser em vão, o preço do amor foi subindo terrivelmente para esta menina, ao longo dos últimos 10anos.
Por isso ela hoje já não se senta no canto, já não soluça e já não se espanta. Aceita apenas quando chegou ao limite do seu esforço, das suas cedências e do quanto se pode esperar por alguém, em nome do amor.
Amar não basta... Querer muito não basta! Foi o que uma vez mais a vida lhe ensinou.
Hoje ela não sente esta musica como sendo de si para alguém.
Hoje ela ouve e imagina o momento em que esta musica fará sentido para mais alguém, como fez para ela há 10anos atrás, no dia em que percebeu que tinha trocado um grande amor por coisas que não valiam de todo a pena. Nada vale, comparado com um grande amor.
